Foto: Prints de vídeo filmado por aluno mostram momentos em que os manifestantes tentaram impedir sua gravação nas proximidades de uma das entradas da feira, que estava bloqueada.Foto: Prints de vídeo filmado por aluno mostram momentos em que os manifestantes tentaram impedir sua gravação nas proximidades de uma das entradas da feira, que estava bloqueada.

De acordo com carta de estudantes da universidade, participantes do protesto bloquearam as atividades da feira “impedindo e assediando diversas pessoas a não participarem” e “agredindo colaboradores do serviço de segurança do evento

Protestos antissionistas impediram a realização da Feira das Universidades Israelenses na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) nesta última segunda-feira (03). Mais de 200 universitários inscritos para participar do evento não puderam sequer entrar no local onde a feira seria realizada, pois manifestantes se uniram com bandeiras e faixas e bloquearam as entradas. A fachada do prédio foi pichada com as palavras “Palestina Livre”. 

Um vídeo gravado por um aluno da PUC Campinas, que foi até a Unicamp para visitar a feira de universidades israelenses, mostra a mobilização na frente de uma entrada do evento, e manifestantes tentam impedi-lo de continuar a gravação. Quando o aluno fala que ele apenas gostaria de acessar o evento e pergunta qual era o objetivo dos manifestantes, um deles responde que eles queriam fazer que a feira não acontecesse pois era “genocida”. Quando o aluno tenta argumentar que era um espaço democrático, um dos manifestantes retruca que “essa feira não é democrática pois endossa um genocídio”, e ele é obrigado a se afastar.

Apesar das alegações de que a manifestação foi pacífica, membros da equipe da ONG StandWithUs Brasil estavam presentes e testemunharam agressões contra seguranças e funcionários ligados às universidades participantes. A organização ainda retratou, em nota de repúdio publicada ainda na segunda, que “com os rostos cobertos pelo Keffiyeh, lenço palestino, os vândalos incitaram a multidão de dezenas de pessoas, tentaram invadir à força o salão do evento e encurralaram a equipe por algumas horas”.

Um dos professores da StandWithUs Brasil, Igor Sabino, foi procurado pelos alunos da Unicamp impedidos de participar da programação, pedindo para usarem as redes da organização para publicarem uma carta escrita por eles sobre o ocorrido. Na carta, os estudantes relatam que manifestantes bloquearam as atividades da feira “impedindo e assediando diversas pessoas a não participarem deste evento e agredindo colaboradores do serviço de segurança do evento”.

Além disso, ressaltam que muitos estudantes, diante deste acontecido, se sentem lesados por não conseguirem a experiência de intercâmbio cultural e pedem um posicionamento por parte da Universidade, principalmente pelo DeDH (Diretoria Executiva de Direitos Humanos).

“O boicote desse evento é um sintoma dos sucessivos ataques por meios acadêmicos contra a comunidade israelense e toda a possibilidade de contato com a cultura, demonstrando um antissemitismo enraizado na mesma comunidade que preza por diversidade, tolerância, inclusão e pluralidade. Vale ressaltar que houve falas onde compararam o Estado de Israel ao regime nazista e ao Apartheid da África do Sul. Nós, estudantes da Unicamp, repudiamos as atitudes ocorridas e reforçamos que o artigo 5 inciso XV da Constituição Federal foi ferido brutalmente, bem como o Art. 20 da Lei nº7.716/89 e o próprio regimento da Unicamp”, consta no documento.

Segundo Cléo Assunção, coordenadora de Relações Institucionais da StandWithUs Brasil, que estava presente no evento, “mobilizações violentas como a que ocorreu ontem devem ser um alerta para a sociedade sobre o antissemitismo e antissionismo endêmicos que têm crescido rapidamente nos campi universitários. O ambiente acadêmico brasileiro deveria ser um exemplo de diálogo democrático, de tolerância, liberdade de expressão e respeito ao próximo. Porém, o episódio de ontem retrata que estamos caminhando no sentido oposto. Esperamos que as instituições de ensino superior do país se atentem ao ocorrido, posto que episódios como esse não são apenas boicotes ao Estado de Israel, mas sim um boicote à educação brasileira”.

A Feira das Universidades Israelenses é um evento anual promovido em parceria com grandes universidades brasileiras, visando a cooperação e o intercâmbio acadêmico com estudantes brasileiros, por meio de oportunidades como estágios, cursos de graduação e pós-graduação. Dias antes da data marcada, a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) pediu o cancelamento da feira, alegando que as universidades israelenses estariam ligadas à construção de um “regime de apartheid” de Israel. No entanto, o reitor da Unicamp, Tom Zé, em sessão do Conselho Universitário, optou por manter o evento, que já havia sido autorizado pela universidade.

Após as manifestações e o impedimento do acesso ao evento, em nota, a Reitoria da Unicamp informou que a feira não pôde ser realizada por “força de manifestações contrárias à sua ocorrência” e que “a saída, com segurança, da equipe promotora do evento ocorreu após negociações com os representantes da manifestação”. Além disso, a instituição reforçou que “o direito à livre manifestação será garantido desde que essas sejam realizadas de forma pacífica e desde que não haja o impedimento de atividades acadêmicas devidamente autorizadas pelas instâncias decisórias da Universidade”.

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