A ilusão do investimento chinêsEmployees of the People's Republic of China's embassy in Costa Rica, hoist their national flag during the opening of the Chinese embassy building in San Jose, Costa Rica 23 August 2007. The first Chinese commercial delegation is in Costa Rica after their countries established diplomatic relations on 01 June 2007. AFP PHOTO/Yuri CORTEZ (Photo by Yuri CORTEZ / AFP)

Por Lorena Baires/Diálogo

A presença aparentemente grande de empresas chinesas nas Américas Central e do Sul está causando preocupação entre os analistas sociais e políticos, informou a revista ambientalista Mongabay Latam. A realidade pode estar mais próxima a uma ilusão útil apenas para os propósitos da nação asiática.

“A presença de empresas chinesas na região é superestimada”, disse à Diálogo, em 14 de novembro, Napoleón Campos, especialista salvadorenho em Relações Internacionais, Integração Regional e Migração. “Essa superestimação leva as pessoas a pensarem em uma avalanche de capital chinês e na abertura de fontes de emprego. Mas nada disso existe, mesmo para regimes autoritários arraigados como Cuba, Venezuela, Bolívia e Nicarágua.”

Por exemplo, em 23 de outubro, Laureano Ortega, filho dos ditadores nicaraguenses Daniel Ortega e Rosario Murillo, anunciou um pacote de seis projetos milionários com a China, como resultado de sua participação no 3º Fórum do Cinturão e Rota, realizado em Pequim, em outubro. Os detalhes de qualquer um dos compromissos e como o dinheiro será administrado não foram divulgados. “A maioria das promessas da China não se concretiza, mas permite que ela amplie sua presença na região”, informou o diário nicaraguense La Prensa.

“Essa ideia da esquerda ideológica de negociar com a China […] desapareceu tão rápido ou mais cedo do que parecia”, acrescentou Campos. “Tanto a América do Norte quanto a Europa continuam sendo os grandes cooperadores da América Central”.

“As relações com a China estão em declínio. Há um desequilíbrio muito perigoso entre o crescimento das exportações chinesas em comparação com suas importações, causando [na América Latina] uma maior dependência”, disse o pesquisador Oscar Garro, do Observatório da Política Internacional, ao Semanario Universidad, da Universidade da Costa Rica. “O consumidor da Costa Rica definitivamente vê uma presença maior de produtos, como roupas e calçados fabricados na China, mas […] por que não fortalecer essas cadeias de suprimentos para produzi-los em nosso país, em vez de importá-los da China? Isso nos daria mais segurança econômica, populacional, de empregos, segurança alimentar e investimento em indústrias nacionais e regionais.”

A China prometeu mais acesso aos seus mercados para empresas estrangeiras e mais de US$ 100 bilhões em financiamentos novos para outras economias em desenvolvimento. Enquanto isso, sua economia está sofrendo uma desaceleração e uma queda nos investimentos estrangeiros, informou a revista colombiana Semana, em 18 de outubro.

“As democracias da América Latina e do Caribe ignoram o fato de que o Partido Comunista Chinês é acusado de crimes contra a humanidade e até mesmo de genocídio contra minorias étnicas, conforme registrado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU. Ele é apontado por órgãos independentes, como Human Rights Watch e Anistia Internacional”, lembra Campos. “Toda a oportunidade que a China tem para deslocar Taiwan é aproveitada, como ocorre na América Central ístmica e insular, onde Taiwan tem apenas dois aliados: Belize e Guatemala.”

“A China tem pouco interesse no mercado centro-americano, que não é suficientemente diversificado como para supor seu interesse pelo comércio internacional”, disse Rafael Párraga, professor do Instituto de Estudos Políticos e Relações Internacionais da Universidade Francisco Marroquín, da Guatemala, ao jornal guatemalteco La República. “O interesse é puramente geopolítico: condicionar o acesso ao mercado chinês, ao investimento em infraestrutura e oferecer apoio à dívida, em troca do não reconhecimento de Taiwan como um Estado soberano.”

Embora o investimento da China na Iniciativa Cinturão e Rota tenha diminuído, Pequim está buscando fortalecer seus laços com a América Latina, para continuar a ter acesso a matérias-primas baratas, que lhe permitam sustentar sua atividade econômica, publicou Voz da América.

“A proteção mais importante a ser buscada diante dos interesses fundamentalmente extrativistas da China é a do meio ambiente”, afirmou Campos. “Os fluxos de investimento da China estão focados principalmente na extração, desrespeitando acordos e tratados internacionais. A América Central tem um problema sério, que [felizmente] já está sendo atenuado pelo interesse extrativista dos EUA e da Europa com maiores regulamentações.”

Em Honduras, também há preocupações sobre a falta de transparência nas negociações que levaram à assinatura de 22 acordos de cooperação, informou o jornal hondurenho El Heraldo, em 2 de novembro.

O Conselho para o monitoramento da ética, comércio e soberania de Honduras, de acordo com o jornal hondurenho El Mundo, pediu, durante o Fórum Ética, Soberania e Comércio nas Relações Honduras-China 2023, para que “no processo de negociação de acordos comerciais e políticos com a China, os interesses do país e o bem-estar da população sejam salvaguardados; que existam garantias para o respeito aos direitos humanos, a proteção dos recursos naturais, a promoção da transparência, o direito à informação e o respeito à soberania”, exigiu o Conselho.

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